Divisão de enxames

Na natureza, os enxames se dividem quando uma colônia está forte. No caso das abelhas sem ferrão, algumas campeiras procuram um local favorável para construir um ninho, e começam a preparar o local. Quando uma princesa está pronta para acasalar, ela sai para o voo nupcial, seguida por vários machos da mesma espécie, até copular com um deles. Feito o acasalamento, as operárias que a estão acompanhando, a conduzem até o ninho novo, onde ela começará a postura dos ovos algum tempo depois. No início, os ninhos mãe e filha mantém contato, pois as operárias velhas continuam trazendo alimento e cera do ninho-mãe para a filha. Depois de algum tempo o vínculo é rompido, e completa-se assim, o processo de enxameamento e formação de uma colmeia nova.
Já no meliponário, costumamos fazer as divisões artificiais. Mas, como fazer essa divisão corretamente? Vamos apresentar aqui algumas dicas básicas.
Primeiramente, é necessário ter uma caixa vazia com um tamanho adequado. Caixas muito grandes não são práticas, pois as abelhas terão, no início, muito trabalho para manter a temperatura e a umidade ideal para o interior da colmeia. Além disso, o feromônio que as princesas exalarão, ficaria muito disperso em uma caixa muito grande, dificultando a escolha da nova rainha. Portanto, é melhor começar com caixas menores, que podem ser aumentadas posteriormente em módulos, segundo o modelo de caixa.
Algumas ferramentas também podem ser úteis. Se você for presenciar uma demonstração prática de um enxame, fique atento às ferramentas que serão usadas. Na nossa associação já fizemos algumas divisões, e todas as vezes houve uma boa troca de experiências com ferramentas úteis. É claro que é tudo adaptado, não existem ferramentas específicas para a meliponicultura. Então, prepare-se!
Agora, é hora de olhar a caixa-mãe. Abra a caixa, e remova, com cuidado, a geoprópolis e a cera que cobrem os discos de cria. Cuidado com os potes de mel, e principalmente de pólen, que estarão em volta. Potes rasgados podem atrair pragas para a caixa. 
Discos de cria de Jataí, com realeiras nas bordas.
Foto: Adeniso D. Costa
Um aspecto importante é saber se a espécie que está tentando dividir, é do gênero Melipona, ou não. Popularmente, esses dois grupos são chamados de o grupo das Meliponas, e das Trigonas. O gênero Melipona não possui células reais, mas de todos os discos de cria nascem princesas, machos e operárias. Já a grande maioria das outras, as Trigonas e afins, possuem células especiais, as realeiras, que se caracterizam como células de cria de tamanho muito maior que o restante. Normalmente, ficam nas bordas dos discos de cria. Porém, muitas vezes não tem nenhuma realeira no ninho, pois estas não são produzidas em todas as épocas do ano. e mesmo em épocas favoráveis, se o ninho não tiver condições de enxamear, pode não ter realeiras. Uma divisão de abelhas desse grupo não terá sucesso, se não houver uma realeira no disco a ser transferido.

Olhando os discos, veja a cor destes. Os discos ideais para uma divisão são cor de palha, bem claros, em contraste aos discos escuros novos. São chamados de discos nascentes, porque as larvas estão prestes a sair. É importante utilizar discos nascentes para a divisão, pois senão, o enxame novo ficará muito tempo sem campeiras, quando as velhas começarão a morrer pela idade. Se tiver um disco nascente assim por cima, a divisão poderá ser feita. Remova, com cuidado, o disco nascente de cima. Ele está preso ao disco de cria logo abaixo, por pequenos pilares de cera, que precisam ser rompidos.

Removido o disco de cria, faça alguns pilares ou bolinhas de cera, como suporte na caixa nova. Estes suportes irão garantir que as abelhas poderão circular abaixo do disco na caixa nova. Coloque o disco em cima desses suportes, sem apertar. Cuidado para não virar o disco, ele precisa ficar na mesma posição em que estava antes.
A parte principal da divisão já está feia. Você pode, agora, transferir alguns potes de mel ou até de pólen, fechados de preferência, da caixa-mãe para a caixa filha. Outra coisa que ajuda muito, é fornecer cera para a caixa nova. Se não tiver de abelhas sem ferrão, pode ser de Apis mesmo, que é facilmente encontrada em casas de apicultura, ou na associação de apicultores (em Joinville, veja APIVILLE).
Por fim, algumas operárias precisarão entrar na caixa nova. Como a maioria das operárias geralmente se esconde no fundo do ninho quando se mexe nele, dê algumas batidas na caixa-mãe, até que boa quantidade de operárias saia da caixa. Feche a caixa-mãe agora, tanto a tampa, quanto a entrada, e coloque um pouco mais longe. Feche também a tampa da caixa-filha, mas deixe a entrada aberta. Para ajudar, coloque um pouco da cera da caixa-mãe próximo à entrada, por dentro e por fora, da caixa-filha. O cheiro ajudará as operárias a encontrar a nova entrada.
Coloque agora a caixa-filha no lugar original da caixa-mãe. As operárias, acostumadas com aquele local, encontrarão esta caixa nova, e depois de alguma confusão, aceitarão o novo lar.
A caixa-mãe precisa ficar bem longe por algum tempo. Recomenda-se pelo menos 15 dias, para a maioria das espécies. O objetivo disso é fazer com que as operárias velhas não encontrem a caixa-mãe, pois senão, poderão acabar tirando o alimento e a cera da filha, levando de volta à caixa-mãe. Este vínculo precisa ser cortado.
É claro que este procedimento é muito generalizado. Cada espécie de abelha tem suas peculiaridades. Procure conhecer mais sobre a biologia da espécie em questão, antes de fazer sua primeira divisão.

Boa sorte!

Um comentário:

  1. Moro no Vale do Ribeira. Lado paranaense. Tenho 25 caixas. Tem Tubunas, Jatais, Mandaçaias, Guaraipos e Mirins. Tentei por duas vêzes fazer divisão. Não deu certo. As Mandaçaias são vulneráveis demais aos forídeos. Perdi o enxame mãe e o enxame filha. Nas Tubunas perdi o enxame filha...
    Quando mudo do ambiente natural p caixas tenho sucesso...
    Agora tenho medo de tentar novas divisões...

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